domingo, 26 de febrero de 2012

GUERRA JUNQUEIRO...Sempre actual...

Apesar de escrito em 1896 este texto de Guerra Junqueiro não perde actualidade
ao caracterizar a sociedade portuguesa.Leiam e vejam se não é verdade:
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"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos
de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a
energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está,
nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda
ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma
nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o
bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que,
honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e
sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira a
falsificação, violência ao roubo, donde provem que na política portuguesa
sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente
inverosímeis.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este,finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País. [.] A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;
Dois partidos [.] sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, [.] vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao
outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar
disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na
mesma sala de jantar.
"Guerra Junqueiro, "Pátria", 1896.

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