miércoles, 29 de febrero de 2012

Feriados religiosos podem ser adiados...


Fim dos feriados religiosos pode ser adiado para 2013Porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa diz que o processo acarreta morosidade http://www.dnoticias.pt/actualidade/pais/310321-fim-dos-feriados-religiosos-pode-ser-adiado-para-2013
Enquanto o 5 de Outubro e o 1.º de Dezembro desaparecem do calendário dos feriados, o fim
dos feriados religiosos pode ser adiado para 2013 por este Governo, que está de
joelhos perante as sotainas, desprezando a laicidade a que é obrigado e traindo
o regime – a República –, cuja data emblemática é o 5 de Outubro.
A laicidade é uma conquista republicana que defende a liberdade religiosa e a
paz.
Enquanto os judeus ortodoxos se agarram à Tora e à faixa de Gaza, os
muçulmanos debitam o Corão e se viram para Meca e os cristãos evangélicos dos
EUA ameaçam a laicidade e a teoria evolucionista, os conflitos religiosos e o
terrorismo assustam a Europa.
A emancipação do Estado face à religião iniciou-se em 1648, após a guerra dos 30 anos, com a Paz da Vestfália e ampliou-se com as leis de separação dos séc. XIX e XX, sendo paradigmática a lei de 1905, em França, que instituiu a laicidade do Estado.A libertação social e cultural do controle das instituições e símbolos religiosos foi um processo lento e traumático que se afirmou no séc. XIX e conferiu à modernidade ocidental a sua identidade.A secularização libertou a sociedade do clericalismo e fez emergir direitos, liberdades e garantias individuais que são
apanágio da democracia.
A autonomia do Estado garantiu a liberdade religiosa, a tolerância e a paz civil.Não há religiões eternas nem sociedades seculares perpétuas. As três religiões do livro, ou abraâmicas, facilmente se radicalizam.
O proselitismo nasce na cabeça do clero e medra no coração dos crentes.Os devotos creem na origem divina dos livros sagrados e na verdade literal das páginas vertidas da tradição oral, com a crueza das épocas em que foram impressas.
Os fanáticos recusam a separação da Igreja e do Estado, impõem dogmas à sociedade e perseguem os hereges. Odeiam os crentes das outras religiões, os menos fervorosos da sua e os sectores laicos da sociedade.
Em 1979, a vitória do ayatollah Khomeni, no Irão, deu início a um movimento radical de reislamização que contagiou Estados árabes, largas camadas sociais do Médio Oriente e sectores árabes e não árabes de países democráticos.Por sua vez o judaísmo, numa atitude simétrica, viu os movimentos ultraortodoxos ganharem dinamismo, influência e armas, empenhando-se
numa luta que tanto visa os palestinianos como os sectores laicos.
O termo «fundamentalismo» teve origem no protestantismo evangélico norte-americano
do início do séc. XX. Exprimiu o proselitismo, recusa da distinção entre o
sagrado e o profano, a difusão do deus apocalíptico, cruel, intolerante e avesso
à modernidade, saído da exegese bíblica mais reacionária. Esse radicalismo não
parou de expandir-se e já contamina o aparelho de Estado dos EUA.O
catolicismo, desacreditado pela cumplicidade com regimes obsoletos (monarquias
absolutas, fascismo, ditaduras várias), debilitou-se na Europa e facilitou a
secularização.
O autoritarismo e a ortodoxia regressaram com João Paulo II (JP2) e Bento XVI (B16), que enterraram o concílio Vaticano II e recuperaram o Vaticano I e o de Trento.
Os dois últimos pontífices transformaram a Igreja católica num instrumento de luta contra a modernidade, o espírito liberal e a tolerância das modernas democracias. Tem sido particularmente feroz na América latina e autoritária e agressiva nos Estados onde o poder do Vaticano ainda conta, através de movimentos sectários de que Bento XVI foi herdeiro e
protetor, ou esteve na sua génese.
A passagem pelo poder de líderes políticos que explicitaram publicamente a sua fé, em países com fortes tradições democráticas (EUA e Reino Unido), foi um estímulo para os clérigos e um perigo para a laicidade do Estado. Por outro lado deram um mau exemplo aos países
saídos de velhas ditaduras (Portugal, Espanha, Polónia, Grécia, Croácia),
facilmente disponíveis para novas sujeições.
A interferência da religião no Estado deve ser vista, tal como a intromissão militar, a influência tribal ou as oligarquias – uma forma de despotismo que urge erradicar.A competição
religiosa voltou à Europa.
As sotainas regressam. Os pregadores do ódio sobem aos púlpitos. A guerra religiosa é uma possibilidade a que os Estados laicos têm de negar a oportunidade. Só o aprofundamento da laicidade nos pode valer.
E Portugal vai por mau caminho.
Carlos Esperança – Coimbra, 27 de Fevereiro de 2012
Carlos Esperança publicó en Facebook en el grupo "Movimento Republicano 5 de Outubro."

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