E, de repente, parece que o Portugal da cauda da Europa, o Portugal das pensões baixas, o Portugal com quase 500 mil desempregados, volta a viver aprisionado numa decisão: vamos, ou não, poder viajar, daqui a uns anitos, a bordo de um cómodo e rápido comboio de alta velocidade? Poderemos nós sobreviver enquanto nação desenvolvida sem este cartão de visita?
Poderá Lisboa ter pujança económica face às suas congéneres europeias se for das poucas capitais da Europa a 27 sem o TGV?
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Depois de Mário Lino ter adiado para a próxima legislatura a assinatura do contrato de concessão, Manuela Ferreira Leite juntou a sua voz à de 28 economistas no repúdio do projecto. Porque, alega a líder do PSD, se trata de uma infra-estrutura megalómana, que não gera emprego e contribui para o endividamento do país.
Já José Sócrates acredita piamente que o TGV vai gerar emprego, investimento e ajudará a alavancar a economia. Estamos, por isso, perante duas escolas de pensamento, dois modelos de desenvolvimento económico do país. Em síntese: quem ganhar as eleições legislativas decide.
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Só que o comboio já segue veloz de mais para ser parado. Já há concorrentes na corrida com propostas firmadas, já há fundos comunitários cativos. E neste particular a coisa pode ser bicuda: Bruxelas já avisou que o problema de haver ou não TGV é do Governo português, que não está preocupada com "timings", mas que era "importante" que Portugal não ficasse para trás. Mas se ficar, a política de financiamento terá de ser alterada necessariamente.
Ou seja: sem alta velocidade, o Estado português perderá de vista qualquer coisa como 20% de ajudas para um investimento total previsto de 7,5 mil milhões de euros.
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Mas o TGV, que arrisca transformar-se numa das bandeiras de campanha, não é nem a salvação nem a maldição da economia portuguesa. Nem o PS pode ficar refém deste projecto para projectar o seu ideal de desenvolvimento sustentado nem Manuela Ferreira Leite deve agarrar-se em demasia ao argumentário do endividamento no sentido de se afirmar como alternativa.
Concorde-se ou não com o TGV, não é certamente este o principal drama do país, mas sim as formas para combater a tragédia do desemprego e os problemas na educação, na saúde e na justiça.
Não podemos ficar só a ver passar os comboios.
Pedro Ivo de Carvalho
in JN
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