domingo, 6 de mayo de 2012

No Reino da Granelandia...


Perigo na Linha de Sintra


As portas do comboio abrem à 01h33 na estação do Cacém. As saídas assemelham-se a um labirinto e os passageiros seguem apressados. As paredes metem medo. Multiplicam-se os avisos e ameaças: "Cuidado, estamos na área".
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Nem de propósito. Na escuridão, um rapaz e uma rapariga sentem um vulto que não os perde de vista. Obrigados a correr, escapam por um triz a um assalto, graças a um taxista que lhes surge como um herói. Estava com as portas trancadas. Ficou assustado com a correria, mas abriu-as. As vítimas em fuga, assustadas, quase em pânico, não revelavam ser mais do que comum par de amigos, iguais a tantos outros. Não ostentavam nada, sequer, que chamasse a atenção. Eram os dois repórteres do CM, que assim se juntavam às centenas de pessoas atacadas anualmente na Linha de Sintra.
A viagem do último comboio começa no Rossio à 01h08. Hora morta. Ao fim de meia dúzia de viagens, as caras já são nossas conhecidas. Mas não há lugar a sorrisos, apenas conversas são de circunstância. À passagem pelas estações mais complicadas - Amadora, Monte Abraão, Cacém, Rio de Mouro e Mercês - o silêncio corta e o olhar inclina-se para o chão. O medo é constante.
Desde as estações da Damaia até ao Cacém sente-se a tensão. São quinze minutos medonhos. Grupos de quatro ou cinco, na maioria rapazes, sentam-se junto às portas. Pés em cima dos bancos, braços cruzados, chapéu na cabeça. Roupa escura, que mal se vê à noite. Falam alto. Fingem estar a dormir à passagem dos revisores. Ninguém os acorda e polícias mal se vêem. Resta a esperança de andarem por ali à paisana.
Do Rossio a Sintra não são mais de quarenta minutos. Parecem horas. As raparigas não viajam sozinhas. Os pais saem de casa, à noite, para as ir buscar a Lisboa e proteger na viagem. Brincos, anéis e carteiras estão escondidos. Crianças nem vê-las. 

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