lunes, 27 de abril de 2009

O mestre-escola...

Os meninos e meninas estavam bem sentados, com os computadores ligados, as mãozinhas em cima das carteiras e relativamente em silêncio.
Como era dia solene, a sala estava cheia de flores e alguns ostentavam orgulhosos um cravo na lapela do casaco.
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Respeitosamente, alguns meninos e meninas subiram à tribuna e desataram a falar do 25 de Abril, da crise, do Salazar de Santa Comba Dão, do esquerdismo, de sequestros, de saudades dos tempos que já lá vão. Já a sessão ia longa quando chegou a vez de falar o senhor Presidente da República.
A expectativa era muito grande, esperava-se um raspanete, um puxão de orelhas ao Governo que, em silêncio, com o senhor presidente do Conselho ao meio, ouvia tudo o que se dizia na sala. Contra, principalmente, e a favor, pela voz de um capitão de Abril que entrou nos atalhos e sarilhos da política partidária.
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Cavaco Silva levantou-se, sem cravo na lapela, algo que escandaliza os guardiões da moral e dos bons costumes abrilistas, e começou a dar uma aula de bom comportamento aos meninos e meninas que representam os indígenas deste sítio manhoso, pobre, sem futuro, hipócrita quanto baste e obviamente cada vez mais mal frequentado.
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O senhor Presidente da República sabe perfeitamente o que a casa gasta, e por isso mesmo chamou à atenção de todos que num ano repleto de actos eleitorais não devem chamar nomes feios uns aos outros, não podem andar a contar mentiras aos eleitores e muito menos mostrar que têm montes de dinheiro para gastar em cartazes, esferográficas, filmes para as televisões, grande comitivas com carros potentes, almoçaradas, jantaradas e espectáculos obscenos para os grandes líderes mostrarem as suas habilidades no palco.
E Cavaco Silva também lembrou aos meninos e meninas, principalmente aos socratinhos e laranjinhas, que o melhor é começarem desde já a pensar em soluções de Governo, porque o tempo das maiorias absolutas já deu o que tinha a dar.
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Nem todos os alunos gostaram da lição de bom comportamento. Enquanto os portistas e laranjinhas aplaudiram de pé, que o respeitinho é muito bonito, os corrécios dos comunistas e trotskistas amuaram e os socratinhos, com o chefe a olhá-los bem de frente, ficaram manifestamente embaraçados, uns de pé, outros sentados, uns a bater palminhas e outros nem por isso.
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O discurso de Cavaco Silva nos 35 anos do 25 de Abril foi exemplar e é bem revelador do estado a que chegou esta treta de democracia.
António Ribeiro Ferreira
in CM

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