miércoles, 29 de abril de 2009

Sócrates, SA...

Durante anos, mais em privado do que em público, os empresários queixavam-se do poder político. Nesta legislatura aconteceu um milagre. O poder empresarial, mais em público do que privado, adora o poder político. Para ser mais preciso, adora José Sócrates.
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A paixão é tão intensa que hoje em dia já é difícil encontrar um projecto empresarial que não esteja associado ao primeiro-ministro, ou uma iniciativa governamental na esfera económica em que não seja visível algum interesse empresarial em fundo.
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Há crise na Fábrica Bordalo? A Visabeira compra. Quem anuncia a operação aos trabalhadores sob o foco das televisões? José Sócrates. Fica a dúvida. Foi um negócio ou uma medida política? A Visabeira estava mesmo interessada na Fábrica Bordalo ou deu o seu inestimável contributo para a estabilidade social?
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Quem salvou as minas de Aljustrel? José Sócrates ou a Martifer? Lendo as notícias parece ter sido o primeiro-ministro, embora tudo indique que seja a Martifer a pagar a conta. Detalhes, claro. O que interessa é que nos telejornais o primeiro-ministro, usando uma imagem da tauromaquia, foi levado em ombros pelos mineiros.
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É um turbilhão imparável. A Caixa investe algures no mundo? Lá está José Sócrates substituindo-se a Faria de Oliveira. A PT cria postos de trabalho no interior? O primeiro-ministro é o convidado de honra. Há 'Magalhães' para vender? Aí vai José Sócrates transformado em director comercial, de escola em escola, país a país.
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A coisa está de tal forma que já ninguém faz perguntas. E quem as faz é olhado com desconfiança e catalogado como perigoso agente do "bota abaixismo" e do pessimismo.
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Não há dúvida que a paixão é inimiga da razão. Por isso nem vale a pena perguntar quem paga os 'Magalhães', se houve concurso, se a Visabeira e a Martifer estavam mesmo interessadas em ir às compras, quem é que verdadeiramente manda na Caixa e por aí adiante. Problemas resolvidos, a mensagem passou, siga a Marinha.
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O poder empresarial está rendido. Isto é muito melhor do que alguma vez imaginou. Um primeiro-ministro com espírito de empresário é uma dádiva dos céus. E, por isso mesmo, paga na mesma moeda.
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É raro o dia em que um empresário, dos que contam, claro, não aparece num jornal, ou numa televisão, para garantir aos portugueses que, sem José Sócrates, seria o caos.
O poder empresarial, o que conta para o poder político, ganhou um inesperado e super administrador executivo.
Chama-se José Sócrates.
Luís Marques
in Expresso

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