miércoles, 22 de abril de 2009

Cavaco e a estabilidade...

É tradição da nossa democracia presidentes da República e primeiros-ministros andarem às turras. Houve fúrias e ódios entre Eanes e Soares; conflitos fortíssimos entre Eanes e Sá Carneiro; desconfianças profundas entre Eanes e Balsemão; ‘forças de bloqueio’ e presidências abertas ferozes entre Soares e Cavaco; dissoluções polémicas entre Sampaio e Santana Lopes. Se há força no nosso semipresidencialismo, é a sua capacidade de convívio com crises entre Belém e S. Bento.
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Portanto, não deve ser motivo de estranheza para ninguém que Cavaco critique Sócrates. Ele foi eleito contra Sócrates, cujo candidato era Soares, e pertence à área política do PSD e do CDS-PP, que o apoiaram. Para mais, a actual líder do PSD, Ferreira Leite, é amiga pessoal e política de Cavaco, sendo pois natural que ele a tente ajudar o melhor que pode.
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Estando nós em ano de eleições, é pois perfeitamente previsível que a tensão cresça entre Belém e S. Bento, pois também não se pode esperar de Sócrates que não reaja. Soares, Sá Carneiro, Balsemão, Cavaco, Barroso e Lopes sempre reagiram contra os presidentes que os criticavam, embora o tom dependesse das circunstâncias e dos temperamentos.
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O que já me parece menos lúcido é o PS dizer, como disse António Vitorino, que se das eleições de Outubro resultar instabilidade política isso é mau para Cavaco. Nada disso, dr. Vitorino. O Presidente é sempre mais forte quanto maior a fraqueza dos governos e a instabilidade da situação. Cavaco, como é óbvio, não foge à regra humana de gosto pelo poder, e sabe que terá mais poder se Sócrates não obtiver maioria absoluta em Outubro. Ainda para mais com uma crise económica tão violenta a atingir o mundo, é evidente que Cavaco vai tentar desestabilizar Sócrates e enfraquecê-lo já, não esperando pelo habitual segundo mandato para massacrar o Governo.
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Se há altura em que Sócrates é vulnerável é agora, não daqui a dois ou três anos. Tirar-lhe a maioria absoluta é um objectivo de Cavaco, pois só isso lhe garante um papel preponderante nos próximos terríveis tempos. E, de caminho, ajuda o PSD de Ferreira Leite, evitando a sua irrelevância e agonia por mais quatro anos.
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A única dúvida é como o vai fazer, se de forma surda ou às claras. Na semana passada, houve uma indicação de que o conflito poderá ser aberto e público, mas esperemos pelo próximo episódio, no sábado, para confirmar. Ao menos assim, haverá algum ‘suspense’ no dia 25 de Abril.
Domingos Amaral
in CM

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