Sou um dano colateral do levantamento do sigilo bancário.
As partes pudendas das minhas contas ficarão à vista das Finanças, e ou muito me engano ou não haverá folha de parra (um artiguinho da lei, ou só uma alínea ou um § único) com que alguém como eu, sem "offshores" no colchão, possa cobri-las.
E agora, sempre que encarar o dr. Teixeira dos Santos na TV, não poderei deixar de sentir que me fita com ar reprovador como se me dissesse: "Com que então saldo a descoberto, hein?" ou "Vê lá se pagas a conta da luz, que já estás três dias atrasado".
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A culpa foi minha, que me pus a defender a criminalização do enriquecimento ilícito e deveria saber que o Governo acabaria antes por taxá-lo (60% para o Estado, 40% para o corrupto) e, de caminho, arranjar maneira de espreitar no empobrecimento lícito geral.
Dir-se-á que a lei não é para os portugueses comuns, que não terão nada a esconder.
Mas quem não tem nada a esconder, um buraco nas meias que seja, ou na declaração de IRS?
E já alguém viu uma lei aplicar-se aos portugueses incomuns, àqueles que financiam os partidos e têm milhões na conta bancária?
Manuel António Pina
in JN
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