
Logo no primeiro dia da sua entrada no palácio
de Belém, o ridículo até teve música. Um país espavorido assistiu, pelas
televisões, sempre zelosas e apressuradas, àquela cena do dr. Cavaco, mãos dadas
com toda a família, a subir a rampa que conduz ao Pátio dos Bichos, e ao
interior do edifício. Um palácio que não merecia recolher tal inquilino. Mas ele
é mesmo assim: um portuguesinho no Portugalinho, um inesperadamente afortunado
algarvio, sem história nem grandeza, impelido para o seu peculiar paraíso. A
imagem da subida da ladeira possui algo de ascensão ao Olimpo, com aquelas
figuras muito felizes, impantes, formais, intermináveis. Mas há nisto um
panteísmo marcadamente ingénuo e tolo, muito colado a certa maneira de ser
portuguesinho e pobrezinho: tudo em inho, pequenininho, redondinho.
Cavaco nunca deixou de ser o
que era. Até no sotaque que não perdeu e o leva a falar num idioma desajeitado;
no inábil que é; no piroso corte de cabelo à Cary Grant; no embaraço que sente
quando colocado junto de multidões ou de pessoas que ele entende serem-lhe
"superiores."
Repito: ele não dispõe de um estofo de estadista, e muito menos da
condição exigida a um Presidente da República.
O discurso da sua pobreza
resulta de todas essas anomalias de espírito. Ele tem sido um malefício para o
País. É ressentido, rancoroso, vingativo, possidónio e brunido de mente. Mas não
posso deixar de sentir, por este pobre homem, uma profunda compaixão e uma
excruciante piedade.
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