lunes, 20 de abril de 2009

O eixo das Bermudas...

Agora é o próprio prof. Vital que quer discutir "ideias" para a UE e brincar às eleições
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O país político suspendeu a respiração por causa das "listas" para as eleições "europeias", sobretudo a angustiada "lista" do PSD. O país real nem por isso.
O Eurobarómetro apurou que apenas 24% dos portugueses tencionam votar em Junho, e francamente espantam-me menos os três quartos de eleitores que ficam em casa do que o quarto que se arrasta até às urnas.
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Esses prodígios cívicos vão eleger, exactamente, o quê? Se quisermos ser tecnicamente precisos, 3,05% dos 785 deputados do Parlamento Europeu, ou seja uma parcela irrelevante de uma instituição cuja relevância é igualmente discutível. Na prática, claro que as decisões lá tomadas acerca do aquecimento de esplanadas, da protecção dos isqueiros, do volume das hortaliças e da qualidade do ar afectam as vidas de todos, ou as vidas de quem frequenta esplanadas, usa isqueiros, come e respira. Mas duvido que o português médio detecte a origem das decisões e tenho a certeza de que não detecta a influência dos nossos deputados na respectiva aprovação.
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Para o eleitor comum, o eixo Bruxelas-Estrasburgo é um triângulo das Bermudas amputado de um vértice, um sítio para onde se enviam figuras relativamente públicas e, no mínimo durante cinco anos, não se volta a saber delas. Se for muito atento, o eleitor notará que, de longe a longe, um jornal comenta positivamente o trabalho do deputado X na comissão Y, ou informa que Z se tem destacado no debate de W. E depois? O provável é que o eleitor conclua que X e Z afinal não morreram. E, apesar de lhes invejar o salário, não conclui mais nada.
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O eleitor comum, resumida e justificadamente, ignora a Europa. Aliás, embora por outras e antipáticas palavras, o dr. Vital Moreira disse o mesmo quando, há ano e meio, declarou os cidadãos incapazes de perceber a "complexidade" do Tratado de Lisboa e avisou: "Não será tempo de deixar de brincar aos referendos?" Agora é o próprio prof. Vital que quer discutir "ideias" para a UE e brincar às eleições.
Felizmente, parece que poucos estão dispostos a acompanhá-lo.
Alberto Gonçalves
in DN

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