Cavaco Silva, presidente da República desta vacaria indígena, em visita oficial
ao Açores, saiu-se a certa altura com esta pérola vacum: "Ontem eu reparava no
sorriso das vacas, estavam satisfeitíssimas olhando o pasto que começava a ficar
verdejante"!
Este homem, que se deixou rodear, no governo, pelo que
viria a ser a maior corja de gatunos que Portugal politicamente produziu; este
homem, inculto e ignorante, cuja cabeça é comparada metaforicamente ao sexo dos
anjos; este político manhoso que sentiu necessidade de afirmar publicamente que
tem de nascer duas vezes quem seja mais honesto que ele; este "cagarola" que foi
insultado por João Jardim e ficou calado; este homem que, desgraçadamente, foi
eleito presidente da República de Portugal no momento em que a miséria e a fome
grassam pelo país, em que o desemprego se torna incontrolável, em que os pobres
são miseravelmente espoliados a cada dia que passa, este homem, dizia, não tem
mais nada para nos mostrar senão o fascínio pelo "sorriso das vacas"
satisfeitíssimas olhando o pasto que começava a ficar verdejante"!
Satisfeitíssimas, as vacas?!
Logo agora, em tempos de inseminação artificial, em que
as desgraçadas já nem sequer dispõem da felicidade de "ir ao boi", ao menos uma
vez cada ano!
Noticiava há dias o Expresso que, há mais ou menos um
ano e quando de uma visita a uma exploração agrícola no âmbito do Roteiro da
Juventude, Cavaco se confessou "surpreendidíssimo por ver que as vacas, umas
atrás das outras, se encostavam ao robô e se sentiam deliciadas enquanto ele,
durante seis ou sete minutos, realizava a ordenha"! Como se fosse possível
alguma vaca poder sentir-se deliciada ao passar seis ou sete minutos com um robô
a espremer-lhe as tetas!!
Não sei se o fascínio de Cavaco
por vacas terá ou não uma explicação freudiana. É possível. Porque este homem
deve julgar-se o capataz de uma imensa vacaria, metáfora de um país chamado
Portugal, onde há uma dúzia de "vacas sagradas", essas sim com direito a
atendimento personalizado pelo "boi", enquanto as outras são inexoravelmente
"ordenhadas"! Sugadas sem piedade, até que das tetas não escorra mais nada e
delas não reste senão peles penduradas, mirradas e sem
proveito.
A este "Américo Tomás do século XXI" chamou um dia João
Jardim o "sr. Silva". Depreciativamente, conforme entendimento generalizado.
Creio que não. Porque este homem deveria ser simplesmente "o Silva". O Silva das
Vacas, Presidente da República de Portugal. Desgraçadamente.
Luís Manuel Cunha in «Jornal de Barcelos»
Luís Manuel Cunha in «Jornal de Barcelos»
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