O dr. Sampaio, usando da sua proverbial sabedoria, decidiu animar uma velha e enrugada novela, revelando ao País que é a favor de um rejuvenescido Bloco Central. Obviamente, o dr. Sampaio não perdeu tempo com pormenores: fiado na bondade intrínseca da sua proposta, não se dignou a explicar como se concretizaria esse santo milagre.
À semelhança de outros ventríloquos, o dr. Sampaio limitou-se a acenar com um cenário impossível que procura, antes de mais, justificar a reedição da actual maioria. Ao contrário do que possa parecer, não é a crise que os move, mas sim a crença irracional de que o engº Sócrates é insubstituível.
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Nos tempos que correm, desprovidos das imposições do FMI e de outras contingências do passado, o Bloco Central não chega a ser sequer uma solução de Governo. Como se tem visto, é apenas um expediente eleitoral através do qual se procura estabelecer a impossibilidade de qualquer alternativa às condições únicas que determinam hoje o poder socialista.
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Traduzindo por miúdos, o que fica por detrás de todas as boas intenções anunciadas, é a ideia de que, sem a maioria absoluta do PS, o País se tornaria de tal forma ingovernável que, mais tarde ou mais cedo, seria obrigado a equacionar o seu próprio suicídio através dos bons ofícios do recomendado Bloco Central. Assim sendo, a ‘solução’, longe de ser uma solução, transforma-se rapidamente na prova de que o País não tem solução.
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É por isso que o Bloco Central não aparece nunca como uma prova da vitalidade do regime: mesmo para os seus defensores, ele é, acima de tudo, um mal necessário que decorre de uma situação anómala que idealmente não deveria existir. Se a democracia fosse perfeita, o engº Sócrates teria a sua maioria absoluta assegurada e o dr. Sampaio, em vez de sacrificar a sua frágil coerência, dedicaria o seu tempo a outro tipo de actividades. Nomeadamente, a chorar a frente de esquerda que, ainda há pouco tempo, tentou impulsionar para impedir a eleição do dr. Santana Lopes, em Lisboa. Infelizmente, o povo não oferece garantias de maior.
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Daí que o dr. Jorge Sampaio defenda harmoniosamente o mesmo e o seu contrário. Para as legislativas, não vão os eleitores tecê-las, o dr. Sampaio é a favor de um Bloco Central que junte num só Governo o PS e o PSD. Já para as autárquicas, que se realizam umas semanas depois (ou no próprio dia, não se sabe), o dr. Sampaio preferia uma união de todos os partidos de Esquerda contra um dos elementos do seu Bloco Central.
Para o dr. Sampaio, como se vê, tudo é possível.
O que já é estranho é que nada disto tenha causado estranheza.
Constança Cunha e Sá
in CM
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